Coitada de Ilhéus. Sucupira perde


Uma postagem nas redes sociais feita pelo prefeito de Ilhéus, Mário Alexandre, causou indignação e rebuliço a quem teve a oportunidade de visualizá-la até hoje pela manhã. A repercussão negativa foi tão grande que, muito provavelmente, a autoridade decidiu removê-la, horas depois. O prefeito só se esqueceu de um pequeno detalhe: sim, você pode apagar posts. Mas os rastros ficam, porque os prints são eternos.

E eles foram feitos.

A gente explica, para quem a manobra passou despercebida:

Vamos lá!

Para informar o aumento do número de leitos na cidade, o prefeito publicou uma “arte” destacando que, a partir de agora, Ilhéus passa a contar com 55 vagas de UTI para socorrer as vítimas da Covid-19.

De forma subliminar, a peça destaca o “inocente” novo número (em tamanho grande, com destaque) total de vagas, nas cores laranja e azul.

Se por você passou batido, para os mais atenciosos, jamais passará.

Em ano eleitoral, vale lembrar que 55 é o número que você terá que digitar, na urna, para reeleger Mário Alexandre. As cores usadas são as oficiais do seu partido, o PSD.

A postagem, portanto, parece fazer uma conexão sutil, através de sugestão, que pode relacionar num plano inconsciente, a cura da Covid-19 com a atuação do prefeito, já que as cores e o número representam a identidade política dele, neste momento.

A peça, para além de anunciar a chance de permitir ao ilheense mais oportunidade de socorro – e de vida, representa, em sua faceta subliminar, um caso de abuso eleitoral, por que parece trazer a conta a ser paga na próxima eleição.

Mário liga o trabalho que realiza para salvar vidas neste momento – uma obrigação sua - ao apoio que poderá vir a receber dos sobreviventes na urna, um desejo dele.

Em tempos tão difíceis como este em que a sociedade vivencia insegurança e até desespero, o prefeito de Ilhéus utiliza-se de caminhos que apontam para ilegalidade  (e indiferença) para convencer o eleitor que consegue vencer a luta sobre a doença. 

Iniciativas como esta, lembram Sucupira, a cidade fictícia e folclórica de O Bem Amado, sucesso na televisão brasileira nos anos 80, tendo a memorável interpretação do ator Paulo Gracindo, um político personalista.  

Em Ilhéus, arriscamos dizer que, se não toda, há um pouco de Sucupira na sua essência. Observe: todo gestor quando eleito não abre mão de pintar os prédios públicos municipais nas cores da sua campanha eleitoral.

Muitas vezes, os prédios nem precisam de reforma. Mas para que a população consiga “esquecer” a existência do antecessor, o atual dá o tradicional banho de tinta apenas para mostrar o seu poder e sua presença midiática.

Vejam, observem como o azul de ontem já se tornou o amarelo de hoje!

Um advogado ouvido pelo Jornal Bahia Online disse há pouco que é possível discutir a ilicitude da postagem, dada a tentativa clara de promover o número do partido, que será precisamente o número com o qual o prefeito concorrerá.

“Em tese, a prática pode ensejar a aplicação de multa, por propaganda extemporânea, mas o que vejo de mais relevante, do ponto de vista da crítica política que se pode veicular, é exatamente a preocupação, oportunista, de busca pela promoção político-eleitoral a partir de um tema tão sensível e grave como é a pandemia em curso, cujo combate, no âmbito local, não tem sido satisfatório”, escreveu.

A mensagem do prefeito de Ilhéus é, sem medo de errar, personalista. Pior: os seus adversários (se é que são mesmo) deixam atitudes como esta passarem sem registros, sem uma opinião crítica. O silêncio é ensurdecedor não se sabe se por conveniência (o que é triste) ou falta de competência (o que é lamentável).

Coitada de Ilhéus. Sucupira perde.

Fonte: http://www.jornalbahiaonline.com.br/noticia/39231/Coitada-de-Ilhéus.-Sucupira-perde.html

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